Um levantamento do Google Trends aponta que a expressão “vaga home office” alcançou o topo das buscas na categoria vaga em 2023. A procura pelo termo mais que dobrou em relação ao ano anterior e, mesmo que perca força a partir de agora, o tema já deixou uma mensagem para 2024: seja em casa ou no escritório, os gestores precisam olhar de modo mais aprofundado para seus times, em especial os processos que permitem profissionais crescerem, ficarem satisfeitos e entregarem performance.
Em setembro, vazou um áudio do CEO da Amazon, Andy Jassy, revelando que o executivo não possuía dados para fundamentar sua política de retorno ao presencial. Em um mundo guiado por data analytics, uma ausência de embasamento talvez decepcionante para alguns. Até porque o “outro lado” está firme nos indicadores. Uma das pesquisas mais recentes da Deloitte identificou que mais de 70% da Geração Z (nascidos entre 1995 e 2004) e Millenials (1983-1994) não pensariam duas vezes em mudar de emprego, caso as tarefas voltassem a se concentrar totalmente no escritório.
O conflito de gerações também é algo comum desses tempos. Na minha infância e adolescência, lembro de críticas das gerações anteriores sobre as mais novas. Um certo desdém que no fim se transforma em admiração. Afinal, olha a gente trabalhando e inovando aqui. Podemos aproveitar, então, essas lições não para criticar os que chegaram há menos tempo no mercado, mas para entender de que maneira seus perfis e novos hábitos contribuem para a evolução da companhia.
Há entre essas gerações profissionais que aprendem nos aplicativos, streamings, posts e reels tão bem quanto nos livros impressos. Gente que convive em harmonia com Threads, Tik Tok, X, Youtube, Instagram e tantos outros canais dessa sopa de letrinhas das mídias sociais. Pessoas que transitam entre múltiplas linguagens, ambientes e se adaptam com facilidade no trabalho remoto ao lado do pet, da mãe ou do pai servindo café – e da tarefa que chega via Whatsapp.
Em vez de descartar por completo a nova lógica, deveríamos pensar de que forma essa necessidade de absorver conteúdo o tempo inteiro, essa abertura à informação, à novidade, ao flexível e à disponibilidade do online acrescentam ao universo empresarial. Descobrir como lidar com esse jeito desapegado dos talentos, que não exigem muito para trocar de empresa, de cargo, de objetivo ou até de carreira.
Precisamos pensar se não dá para obter melhores resultados observando a maneira como as novas gerações têm se adaptado ao ambiente de trabalho, no lugar de simplesmente empurrar para elas o mundo como funcionava antes. Quando estamos falando de negócios, não estamos falando de transformação?
Precisamos admitir que nem sempre dá para adaptar o antigo ao novo, encaixar as coisas num modelo anterior. Às vezes é necessário construir a partir do zero. Seja em um padrão presencial, híbrido ou 100% à distância, será cobrado do gestor de 2024 a habilidade de gerir remotamente, assim como já foram cobradas inteligência emocional, humanização do relacionamento ou visão sustentável.
Já não é mais uma questão de como desenvolver a cultura corporativa, caso todo mundo prefira trabalhar boa parte do seu tempo em casa. É uma questão de como sua cultura tem se transformado e o que você tem feito para fortalecê-la, quando 90% do seu time pode ser formado por Millenials e pela Geração Z. Das novas formas de realizar onboarding a plataformas de integração das equipes e maneiras diferentes de tangibilizar a marca para os times, se você ainda não começou a pensar nessas questões fica a sugestão.
Vivian Portella é diretora de Negócios Internacionais do Grupo B&T. Atua há mais de 15 anos no segmento Financeiro de Transferências Internacionais de Recursos. Possui formação em Gestão Empresarial e Comércio Exterior, com especialização nas áreas de Governança e Compliance para instituições Financeiras.