Recentemente, o Vaticano aprovou uma nova diretriz que permite a ordenação de homens gays ao sacerdócio, desde que sigam a prática do celibato. Essa decisão, válida por um período experimental de três anos e restrita inicialmente à Itália, foi anunciada pelo cardeal Matteo Zuppi, presidente da Conferência Episcopal Italiana, no início de 2025.
Essa decisão representa um passo em direção à inclusão, mas não está isenta de críticas. A prática do celibato já é uma exigência para todos os padres católicos, mas ativistas e estudiosos apontam que, no caso de homens gays, essa condição pode ser percebida como uma maneira de reforçar controles sobre sua sexualidade, o que pode limitar o alcance dessa inclusão.
Embora seja vista como um passo à frente na inclusão, a medida tem gerado debates dentro e fora da Igreja. O advogado e ativista LGBTQIA+, Dr. Nilton Serson, analisou a decisão, apontando tanto os avanços quanto as limitações que ela representa. “A exigência do celibato para padres faz parte da tradição da Igreja Católica, mas, quando aplicada especificamente a homens gays, isso pode ser interpretado como uma tentativa de restringir a expressão plena de sua sexualidade. É uma inclusão parcial e condicionada, o que ainda deixa muito a desejar em termos de igualdade”, afirmou.
O Dr. Nilton Serson destacou que, para uma verdadeira inclusão, é essencial que a Igreja valorize todos os seus membros de forma incondicional. “A aceitação genuína só acontece quando as pessoas são reconhecidas por sua dedicação à fé, independentemente de sua orientação sexual. Esse tipo de abordagem condicionada reforça barreiras que deveriam ser superadas pela instituição”, completou.
A decisão vem em um momento de intensos debates internos no Vaticano sobre o papel das pessoas LGBTQIA + no clero. Em 2024, o Papa Francisco, em uma reunião privada com bispos italianos, causou controvérsia ao expressar opiniões contrárias à admissão de seminaristas homossexuais, gerando críticas entre setores progressistas da Igreja.
Para o advogado Nilton Serson, essas declarações demonstram os desafios enfrentados pela Igreja ao tentar equilibrar a manutenção de suas tradições com a necessidade de adaptação aos tempos atuais. “Essa tensão reflete a dificuldade de uma instituição milenar em acolher plenamente a diversidade, especialmente em um mundo que demanda mais inclusão e igualdade”, disse.
A decisão também ocorre em meio a tensões internas no Vaticano. Nos últimos anos, declarações do Papa Francisco sobre o papel de pessoas LGBTQIA+ na Igreja têm gerado debates acalorados. Enquanto setores progressistas defendem a necessidade de uma Igreja mais aberta, correntes mais conservadoras se preocupam com o impacto dessas mudanças nos princípios tradicionais.
A implementação da nova diretriz será observada de perto, tanto por fiéis quanto por especialistas, para avaliar como a Igreja Católica pretende avançar na promoção de um ambiente mais acolhedor e inclusivo sem comprometer seus valores tradicionais. Essa iniciativa, ainda que significativa, é vista como um ponto de partida em um longo caminho rumo à plena aceitação da diversidade no clero.
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Andreia Souza Pereira
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