O mês de maio, tradicionalmente associado às homenagens às mães, é repleto de campanhas emocionais, flores, presentes e declarações afetuosas. No entanto, para muitas mulheres, essa época também desperta sentimentos difíceis. Em vez de amor e gratidão, surgem emoções como tristeza, raiva, dor ou confusão. Afinal, como celebrar a maternidade quando esse vínculo é marcado por distanciamento, ausência, críticas constantes ou até situações abusivas?
Essa vivência, embora pouco falada, é mais comum do que se imagina. “O Dia das Mães pode ser um gatilho para muitas mulheres. A sociedade espera que todas celebrem suas mães com alegria, mas nem todas viveram relações saudáveis e afetuosas com elas”, afirma Lari Pedrosa, terapeuta sistêmica, escritora e facilitadora.
Segundo Lari, muitas dessas mulheres foram criadas por mães emocionalmente ausentes, instáveis ou excessivamente críticas. Já adultas, continuam lidando com os impactos emocionais dessas experiências, que se manifestam na autoestima, nas relações interpessoais, na dificuldade de confiar nos outros ou até mesmo na maneira como educam seus próprios filhos.
“Muitas mulheres não se dão conta de que essa dor que carregam vem da infância. Elas apenas sentem um vazio, uma constante sensação de inadequação, de não serem boas o bastante, mesmo quando têm conquistas importantes. E, em muitos casos, essa ferida tem origem na relação com uma mãe que não soube amar da forma que elas precisavam”, explica Lari.
As marcas deixadas por essa vivência podem aparecer de várias formas: medo de rejeição, dificuldade em confiar em outras mulheres, relacionamentos afetivos desequilibrados — seja por submissão ou controle excessivo — e até uma autocrítica severa, internalizada desde a infância. “Quando a função materna falha, a filha cresce sem chão. Ela se torna adulta, mas continua em busca de algo que nunca recebeu: acolhimento, aprovação e amor incondicional”, pontua a terapeuta.
Além do sofrimento emocional, há ainda o peso da culpa por não conseguir viver o Dia das Mães com espontaneidade. A pressão social para idealizar a figura materna agrava esse dilema interno. “A ideia de que mãe é sagrada impede que a mulher reconheça suas dores. E, sem nomear a ferida, não é possível curar”, diz Lari.
Ela destaca que esse reconhecimento não é sinônimo de mágoa ou acusação. “Trata-se de uma escolha consciente de olhar para a própria história com honestidade. Reconhecer a dor não é odiar sua mãe. É respeitar a sua vivência, suas emoções e entender o que precisa ser cuidado”, explica.
Compreender o contexto da própria mãe também pode contribuir para o processo de cura. “Muitas mães apenas repetiram os padrões que viveram. Elas também foram criadas com dureza, silêncio ou abandono. Enxergar a mãe como uma mulher com suas próprias limitações pode tirar um pouco do peso que carregamos”, sugere.
Contudo, ela faz uma ressalva: acolher a história da mãe não significa permitir abusos ou atitudes nocivas no presente. “Você pode acolher sua história sem continuar se machucando. Não é sobre ‘passar pano’, mas sobre se libertar da posição de vítima e assumir o papel de protagonista”, defende.
A psicoterapia, segundo a especialista, é uma grande aliada nessa jornada. “Com apoio profissional, a mulher pode reconstruir sua autoestima, fortalecer sua identidade e escolher novos caminhos. Ela aprende que não precisa repetir a história que viveu. Pode criar uma nova versão de si mesma”, afirma.
Caso o vínculo com a mãe ainda seja complicado ou distante, tudo bem não querer participar das comemorações convencionais. “Você não precisa fingir que está tudo bem. Pode escolher silenciar com respeito, sem culpa. Pode transformar esse dia em um momento seu para refletir, caminhar, escrever uma carta, meditar ou agradecer por ser hoje a mulher que conseguiu se tornar, apesar das dores”, propõe Lari.
Para algumas, pode ser mais significativo direcionar a homenagem a outras mulheres que exerceram papéis de cuidado e suporte, como avós, madrinhas, amigas, vizinhas ou professoras. “É possível ressignificar a data. Honrar não a mãe idealizada, mas a mulher que você tem se esforçado para ser, a mãe de si mesma”, completa.
Lari Pedrosa encerra com uma reflexão inspiradora: “A cura não é um caminho reto. É feito de altos e baixos, de descobertas, de decisões diárias. Mas é possível. E quando a mulher escolhe se cuidar, com amor e verdade, começa a construir uma nova história. Neste Dia das Mães, talvez a homenagem mais sincera que você possa fazer seja essa: olhar para si com compaixão e se permitir ser a mulher inteira que você sempre quis ser”.
Sobre Lari Pedrosa
Criadora do projeto “Um caminho que leva à cura da mulher: Mães e Filhas”, Lari é especialista em Constelação Familiar Original Hellinger, terapeuta, palestrante, escritora e professora. Autora do best-seller “Uma nova mulher: Curando a conexão mãe e filha”, sua obra nasce de anos de escuta terapêutica, com o propósito de trazer mais consciência às mulheres que desejam transformar suas vidas e relações. Com mais de duas décadas de experiência, tornou-se uma referência no trabalho terapêutico, especialmente, com mulheres, compartilhando seus conhecimentos em atendimentos individuais, grupos, cursos de formação e através de sua escrita.
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MARCIA ROSANE STIVAL
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