Estamos no período do ano em que as vitrines das lojas e os anúncios online nos bombardeiam com as promessas de grandes descontos: a Black Friday. Este evento global, que seduz consumidores em todo o mundo, surgiu no Estados Unidos – em referência à sexta-feira, que acontece após o Dia de Ação de Graças, sempre celebrado em uma quinta-feira. A Black Friday vem ganhando força no Brasil, despertando tanto empolgação quanto apreensão.
No Brasil, a data foi incorporada ao calendário comercial desde 2010, e é celebrada na última sexta-feira do mês de novembro, mobilizando tanto comerciantes quanto consumidores. Segundo uma pesquisa realizada pela Cielo, a cada dez comerciantes, seis esperam vender mais durante a Black Friday neste ano, do que no ano de 2023. A expectativa é de aumento nas transações realizadas por meio do Pix e do cartão de crédito, e redução no uso de dinheiro em espécie.
Em 2023, o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) indicou que as vendas durante o fim de semana da Black Friday cresceram 1,5%, em relação ao mesmo período do ano anterior. No segmento de e-commerce, o faturamento subiu 10,9%, enquanto nas lojas físicas, a alta registrada foi de 0,4%. Com um aumento expressivo, principalmente nas compras parceladas, o que evidencia que muitos consumidores estão dispostos a se endividar para aproveitar as ofertas que, muitas vezes, podem ser enganosas ou menos vantajosas do que aparentam ser.
Ainda de acordo com a pesquisa, 63% dos comerciantes afirmam que suas vendas vão aumentar durante a Black Friday em 2024. Dentre eles, 30% preveem um crescimento superior a 20%, enquanto 31% esperam um aumento de 10% e 20%, e 34% apostam em uma alta de 5% a 10%.
A pesquisa também avaliou a disposição do comércio em oferecer descontos na Black Friday, um dos principais atrativos da data para os consumidores. No total, 82% dos entrevistados afirmaram que planejam conceder descontos, e entre esse grupo, a faixa de desconto mais comum é de até 10%, com 37% dos comerciantes nessa categoria. Outros 24% afirmaram que pretendem dar desconto de até 20%, enquanto 10% oferecerão preços até 30% menores, e outros 11% pretendem fazer ofertas com preços mais de 30% mais baixos que os normais.
Um dado interessante é que a intenção de compra dos consumidores em 2024 caiu em relação a anos anteriores, passando de 79% para 73,6%, conforme o núcleo de pesquisa de mercado Nielsen. Isso pode ser um indicativo de que os consumidores estão mais críticos e fazendo pesquisas preliminares para acompanhar se os descontos serão, de fato, concedidos. Mas a expectativa do comércio é de um aumento real nas vendas deste ano.
Em meio a esse cenário de expectativas, cabe a pergunta: o que leva milhões de brasileiros a consumir mais do que planejavam nesta data?
Nós, seres humanos, ao tomarmos uma decisão, seja ela qual for – e aqui mais especificadamente, a decisão ou não de comprar na Black Friday – nem sempre avaliamos o custo-benefício de nossas ações, mantemos preferências estáveis ou tomamos decisões de maneira cautelosa. Muitas das vezes, sucumbimos ao que ficou convencionado como FOMO (Fear of Missing Out), que pode ser entendido como o medo de perder uma oportunidade imperdível e trata-se de um desvio de conduta que foge a norma. Isso se aplica, especialmente, à tentação de aproveitar um desconto atrativo para comprar algo que muitas vezes não precisamos.
Estudos indicam que a simples palavra “desconto” ativa áreas do cérebro associadas ao prazer, fazendo-nos ignorar a real necessidade ou o impacto financeiro daquela compra. Geralmente, as pessoas tomam decisões que sobrevalorizam o benefício imediato em detrimento do prejuízo financeiro futuro. Esse comportamento é visível na Black Friday, onde a pressão psicológica dos “estoques limitados” e do “tempo esgotando” nos faz agir por impulso.
Para ajudar a contrabalancear esses impulsos, podemos pensar na configuração de alertas no celular que nos lembrem de um objetivo financeiro maior. Esses lembretes, podem ser usados quando acessamos sites de vendas, por exemplo, nos lembrando do impacto nas nossas finanças pessoais, de compras desnecessárias. Ao lembrarmos de nossos objetivos maiores, podemos criar um espaço mental que nos ajuda a resistir aos apelos imediatos de ofertas e descontos que podem desviar nossas finanças. Podemos pensar em esperar 24 horas antes de finalizar a compra, tempo suficiente para analisarmos se aquela compra é realmente necessária.
Por fim, mas não se limitando a isso, podemos pensar em um orçamento específico para o período. Mas, não podemos nos concentrar apenas no orçamento; é necessário atrelar esse orçamento a pesquisas detalhadas dos preços antes e no momento da Black Friday. Estratégias como essas podem ser eficazes, com o intuito de resistir ao apelo emocional. Aliado a todas essas estratégias, questões como “Eu realmente preciso disso agora?” podem guiar decisões mais conscientes. Apesar das expectativas positivas do comércio no que se refere a Black Friday, nós enquanto consumidores, precisamos adotar uma postura mais crítica e estar atentos para não prejudicarmos nossas finanças pessoais.
*Olívia Carolina de Resende Ribeiro é economista, com pós-graduação em Economia Comportamental e mestrado e doutorado em Administração. Atualmente, é professora do curso de Ciências Econômicas no Centro Universitário Internacional UNINTER.
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VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
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