Dois dados relativos à juventude no Brasil chamaram a atenção nessas eleições: 78% de aumento de jovens eleitores, de 16 e 17 anos e o aumento da candidatura de mulheres jovens. Entre os candidatos com 18 e 20 anos, a divisão é meio a meio: 50% de homens e 50% de mulheres candidatas. Entre os candidatos com até 30 anos, a média de mulheres é de 41,6%. Já entre os candidatos com mais de 60 anos, mulheres são apenas 27,9%. Recentemente, pesquisas têm apontado uma divisão de gênero nas opiniões e atitudes dos jovens sobre assuntos relacionados à igualdade entre homens e mulheres. Elas apontam um incomum e novo padrão geracional. Até então, era comum os mais jovens convergirem sobre as normas sociais de sua época, sem grandes divisões de gênero. Hoje, a opinião de uma minoria consistente de meninos da Geração Z, nascidos de 1990 a 2010, contrasta fortemente com a de jovens mulheres dessa mesma geração. Os homens da geração Z tendem a posições mais conservadoras e com um voto mais à direita, enquanto as mulheres dessa mesma geração estão mais progressistas e tendem votar mais na esquerda.
Esse gender gap tem sido resultado, entre outras coisas, de opiniões sexistas e radicais difundidas por meio das redes sociais, por influencers digitais na “machosfera”, beneficiados pelo algoritmo e a formação de bolhas. E, no outro campo ideológico, com movimentos que defendem maior liberdade sexual e de defesa das mulheres, como o #Metoo, que busca denunciar e combater o assédio sexual e a violência de gênero vivenciados pelas mulheres. Mas, antes de tomarmos essa dicotomia como regra no comportamento eleitoral atual dos jovens, precisamos levar em conta que o comportamento político é complexo, multifacetado e depende também das trajetórias dos sujeitos. A análise por meio da classificação etária e por gênero é limitada e precisamos levar em conta outros marcadores sociais de diferença, como raça, etnia e origem social. Além disso, os diferentes contextos sociais em que estão inseridos devem ser considerados, sobretudo em uma sociedade tão desigual como a brasileira.
Considerando o contexto, nesse um quarto de século tivemos mudanças globais que transformaram profundamente a forma como nos comunicamos. A recepção e interação com os conteúdos e a construção social dos indivíduos ocorre hoje de forma muito mais fragmentada. A geração anterior, os millennials, quando eram adolescentes nas décadas de 2000 e 2010, costumavam se identificar com um estilo de música, com uma “tribo” específica, que trazia consigo um combo: uma determinada forma de se vestir, de falar e interações com um grupo que compartilhava essas mesmas características. O debate sobre política não era publicizado para um enorme número de pessoas e uma opinião pouco fundamentada não era alvo de cancelamento público ou engajamento. Hoje, uma opinião controversa ganha palco e seguidores, o volume de informações é inesgotável e o espaço para o debate de ideias genuíno e o dissenso de ideias, necessários em democracias, é, contraditoriamente, muito menor. Contudo, pesquisas já têm apontado que a maioria dos jovens da geração Z também tem buscado checar notícias falsas e radicais, assim como estamos todos mais alertas sobre os danos do consumo desenfreado de redes sociais digitais para a saúde mental e às democracias. Essas novas e novos candidatos podem ser uma esperança para uma futura diminuição da polarização afetiva existente na sociedade hoje e buscarmos soluções reais para problemas complexos que este novo século tem nos apresentado.
*Karolina Roeder. Cientista política, professora de Ciência Política na Uninter.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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