‘‘Lembro-me da minha orientadora Dra. Larissa, responsável por me fazer ver que hoje eu estou no espaço onde deveria estar. Eu nunca fiz nada sozinha. Tudo o que eu fiz para a universidade, sempre foi em grupos. Ela me reafirmou que parte da minha missão é representar, e entendo que realmente me associo a esse local. Eu sou muito tímida. Então isso me dá a vantagem e a responsabilidade para ter um olhar apurado, um olhar para todos, pois neste local social mais introvertido consigo observar e identificar os formas de ajudar a cada um.’’
Mãe Gi, candidata a vereadora em Maringá/PR, concedeu uma entrevista onde mergulhou em suas motivações e aspirações, visando na transformação da política municipal com sua abordagem inclusiva.
Conhecida por seu trabalho social e espiritual na Casa Mariabás, e seu profundo compromisso com a comunidade, a Ialorixá revela suas propostas e visão para um futuro mais justo e representativo.
Durante nossa conversa, Mãe Gi compartilhou detalhes sobre suas principais prioridades e como pretende trabalhar para garantir que todos, todas e todes tenham voz e vez na administração da cidade. Com um histórico de dedicação e uma perspectiva única, ela traz uma abordagem fresca e necessária para a política local.
Leia a entrevista completa para descobrir como Mãe Gi planeja enfrentar os desafios e promover uma Maringá mais inclusiva e equitativa. Conheça mais sobre a Ialorixá que decidiu lutar a favor das minorias, da educação e do meio ambiente. Mas, também, veja o lado seu lado maternal, onde ela se emociona ao citar a sua família e os seus filhos espirituais.
Sua visão e propostas são um reflexo de seu compromisso com a justiça social e a representatividade, e prometem trazer mudanças significativas para a nossa comunidade.
Acompanhe a entrevista na íntegra a seguir:
Mãe Gi, a senhora tem uma longa jornada dentro de diversos movimentos políticos, como ser presidente do Conselho da Mulher (2024) e no COMPIR. O que a motivou querer se candidatar como vereadora em Maringá?
‘‘Minha motivação para pleitear uma cadeira na Câmara Municipal de Maringá é dar voz às pessoas que muitas vezes são excluídas, especialmente grupos como a população negra e LGBT, cujas necessidades são ignoradas por estruturas de poder que favorecem alguns. Minha experiência na Casa Mariabás e minha vivência pessoal me mostraram que muitos direitos garantidos na Constituição não são reconhecidos na prática.
A Câmara ainda carece de representatividade, com poucas mulheres e quase nenhuma presença de negros. Com a ampliação das vagas, temos a chance de trazer mais pluralidade e construir políticas públicas que realmente atendam a todos. Minha candidatura reflete o compromisso com uma Maringá mais justa, onde todas as vozes sejam respeitadas.’’
Como Ialorixá de uma Casa de Umbanda, a senhora tem um caminho a ser seguido espiritualmente. Ser Ialorixá influenciou essa decisão da candidatura?
‘‘Minha posição como Ialorixá carrega uma grande responsabilidade, não só pela comunidade religiosa que lidero, mas também pela sociedade de Maringá. Representar uma religião que enfrenta tanto preconceito torna esse papel ainda mais importante. A possibilidade de levar essa representação ao poder público é uma missão complexa, mas recompensadora.
Como sacerdotisa, meu trabalho me expôs à sociedade e me permitiu atuar em conselhos religiosos, COMPIR e o Conselho da Mulher, onde ganhei a experiência que me impulsiona a buscar uma cadeira na Câmara de Vereadores. Essa trajetória é fruto de anos de estudo, convivência e dedicação tanto à religião quanto à sociedade. Acredito que o momento que vivemos exige diálogo, posições firmes e um alicerce que promova união e respeito.’’
Ouvimos muito dizer que política e religião não se misturam, uma não pode entrar no âmbito da outra. Mas, mesmo assim, vemos elas juntas em diversas pautas no dia a dia. Qual é o papel da cultura e das religiões de matriz africana, em sua visão, dentro das políticas públicas?
‘‘Temos observado avanços na representação religiosa em Maringá e no Brasil, mas ainda há um longo caminho, especialmente nas regiões sulistas, que historicamente carrega uma visão mais “embranquecida”. As religiões de matriz africana, como a Umbanda, frequentemente são invisibilizadas em relação às predominantes religiões cristãs. Nesse contexto, a busca por reconhecimento é essencial, afirmando que existimos e que fazemos parte da sociedade.
A Umbanda, nascida no Brasil, reflete a miscigenação e o sincretismo cultural do país. Lutar pelo seu espaço é, também, preservar e valorizar nossa herança afro-brasileira e indígena. Isso inclui as populações negras e quilombolas, que representam mais de 50% da população brasileira e enfrentam estigmas e preconceitos. A Lei 10.639/2003, que inclui a história e cultura afro-brasileira nas escolas, é fruto dessa resistência, mas, mesmo após 20 anos, sua implementação ainda é falha. Isso evidencia o preconceito persistente, especialmente no ambiente escolar, ao abordar a religiosidade afro-brasileira.
A luta por visibilidade e reconhecimento das religiões de matriz africana é uma extensão da resistência dos movimentos negros e indígenas, que continuam batalhando para que suas histórias e culturas sejam devidamente reconhecidas e valorizadas no Brasil.’’
Por ter tido experiência no Conselho da Mulher, COMPIR, como estudante e professora de faculdade pública, a senhora já viu diversas dificuldades que a cidade e seus grupos do sociais enfrentam. Quais são os principais desafios que a senhora enxerga para Maringá e como pretende enfrentá-los se eleita?
‘‘Como mulher negra, professora universitária e integrante de conselhos como o Conselho da Mulher de Maringá e o COMPIR, já testemunhei os desafios que nossa cidade e grupos sociais enfrentam. Em Maringá, o preconceito, muitas vezes disfarçado, continua sendo um obstáculo para o desenvolvimento pleno da população negra e das religiões de matriz africana.
Durante minha trajetória acadêmica, como estudante e professora na UEM, vi de perto as barreiras sociais e educacionais que persistem. Essa experiência me deu uma compreensão profunda do papel transformador da educação e da importância de políticas inclusivas, como as cotas, para garantir que vozes marginalizadas sejam ouvidas.
Meu trabalho sempre esteve alinhado à promoção do diálogo sobre igualdade racial, religiosa e de gênero. Tive a honra de desenvolver projetos focados na cultura afro-brasileira, como a dança dos Orixás, e de participar ativamente da implementação da Lei 10.639/2003, que assegura o ensino da história e cultura afro-brasileira nas escolas.
Por isso, acredito firmemente que ocuparmos espaços de poder, como a Câmara Municipal, é essencial. A representatividade é crucial para que as políticas públicas realmente respondam às necessidades de todos. A política precisa ser construída por pessoas com vivências diversas, capazes de trazer suas realidades para o centro do debate.
Estou pronta para levar essa diversidade de experiências e lutas à Câmara, fortalecendo as vozes daqueles que, por tanto tempo, foram silenciados. Minha trajetória mostra que, com perseverança e união, é possível vencer preconceitos e construir uma sociedade mais justa e inclusiva.’’
O preconceito religioso é algo que perdura durante séculos e que ainda vemos acontecer atualmente. Como que a senhora acredita que sua candidatura possa contribuir para a desmistificação da Umbanda e outras religiões de matriz africana na sociedade?
‘‘O preconceito religioso atinge, de forma contundente, as religiões de matriz africana e os povos indígenas, que constantemente enfrentam estigmatização e tentativas de apagamento de suas culturas. Alguns grupos sociais buscam suprimir essas tradições, explorando e desvalorizando ainda mais as pessoas negras e indígenas. É crucial que políticas públicas sejam formuladas para garantir o respeito e a preservação dessas culturas, sem que sejam descaracterizadas ou invisibilizadas.
Essas religiões não se limitam ao campo espiritual; são expressões culturais que permeiam o cotidiano, unindo o sagrado e o profano. Em Maringá, observamos avanços no diálogo e na luta por reconhecimento dessas culturas, graças à mobilização de movimentos sociais e culturais que há tempos fortalecem essas pautas.
Minha candidatura à Câmara de Vereadores representa a continuidade desse trabalho. Como Ialorixá, educadora e ativista, minha trajetória na Casa Mariabás, nas escolas, nos conselhos religiosos e em minha formação acadêmica, incluindo mestrado e doutorado, me prepara para essa luta. Com responsabilidade e conhecimento, estou pronta para trazer mais representatividade política em nome da nossa cultura e religiosidade.’’
A senhora tem falado muito sobre criar novas possibilidades de futuro. Dar a voz àqueles que foram calados durante tantas décadas. Pode nos explicar melhor o que isso significa na prática?
‘‘Criar novas possibilidades de futuro, para mim, é dar voz àqueles que sempre foram silenciados – a mulher negra, LGBTQIA+, as religiões de matriz africana, os idosos, as crianças com deficiência. A política está em tudo o que fazemos, e nossa presença nos espaços de decisão é essencial. Não adianta ter pessoas que só conhecem o centro da cidade; precisamos de quem viveu e conhece a periferia, quem sentiu na pele as dificuldades.
Minha experiência em diferentes áreas, como a educação, o esporte, o cuidado com idosos e com pessoas com deficiência, me permite olhar para todas essas questões com profundidade e empatia. A Câmara precisa ser diversa, e eu estou aqui para representar esses grupos, pois só assim avançaremos como sociedade.’’
Como vê a importância da representatividade política, especialmente para mulheres negras e lideranças religiosas?
‘‘A minha trajetória na religião de matriz africana também foi um marco na minha vida. Ao me aprofundar na Umbanda, comecei a reconhecer o poder de transformação que a espiritualidade pode trazer não apenas individualmente, mas socialmente. A partir dessas experiências, entendi que a luta por representatividade não é apenas pessoal, mas coletiva.
A representatividade política é fundamental, especialmente para mulheres negras e lideranças religiosas. Quando ocupamos esses espaços, trazemos nossas vivências, nossas lutas e a perspectiva de quem foi silenciado.
É preciso ter na Câmara quem entenda e vivencie a realidade da periferia, das comunidades de religiões de matriz africana, das mulheres, LGBTQIA+, dos idosos e das crianças com deficiência. Sem essa diversidade, as políticas públicas não refletem as necessidades reais.
Quando estamos lá, nossa presença não só amplia o diálogo, mas também garante que essas vozes sejam ouvidas e consideradas nas decisões que moldam a sociedade.’’
Quais são suas expectativas para a campanha eleitoral e como tem sido a recepção do público até agora?
‘‘Minhas expectativas para a campanha são extremamente positivas, principalmente por conta da coletividade que se formou em torno desta candidatura. No início, nunca imaginei estar nessa posição, mas ver o apoio das pessoas e a mobilização de tantas vozes me traz uma força imensa.
Me mantenho firme por que essa luta não é só minha — ela é de todos nós, direcionada por algo muito maior, algo espiritual.
Principalmente da minha família e dos meus filhos de santo. Acredito muito nessa campanha, porque ela é coletiva, e eu nunca estou sozinha. Às vezes, sinto medo, mas quando alguém dá o primeiro passo, eu vou junto, e me surpreendo com a força que surge. A gente vai caminhando, e, pouco a pouco, estamos chegando. É uma campanha linda, cheia de emoção. Outro dia, alguém passou por mim e disse que já me conhecia. Isso é tão bonito, até um pouco assustador, mas muito gratificante. Só tenho a agradecer. Agradecer a todos que estão comigo, e tenho certeza: nós vamos chegar lá, juntos. E vamos chegar!’’
Para finalizarmos, o que a comunidade de Maringá pode esperar de uma eventual gestão sua como vereadora? Quais são os principais passos pós campanha?
Como vereadora, a minha gestão terá um foco abrangente e inclusivo. Acredito que a responsabilidade vai além de simplesmente apresentar propostas; trata-se de construir conquistas em conjunto com a sociedade. A prioridade será trabalhar em várias frentes: direitos das mulheres, das crianças, da população LGBT e das questões sociais em geral.
A intenção é implementar políticas que melhorem a qualidade de vida em todas as áreas, desde a saúde e educação até a segurança e o acolhimento social. Quero garantir que todos, especialmente os mais vulneráveis, sejam devidamente representados e apoiados.
Os principais passos após a campanha serão estabelecer diálogos contínuos com a comunidade, fiscalizar a execução das políticas e propor melhorias baseadas nas necessidades reais da população. A meta é construir uma sociedade mais justa e equitativa, onde cada voz seja ouvida e respeitada.
A candidatura da Mãe Gi representa uma promessa de transformação e inclusão para Maringá. Com um compromisso firme com a justiça social, ela se destaca por sua abordagem abrangente e colaborativa.
Ao buscar a vereança, Mãe Gi não apenas visa implementar políticas eficazes, mas também deseja fomentar um diálogo contínuo com a comunidade para assegurar que todas as vozes sejam ouvidas e respeitadas. Sua visão de um futuro mais justo e inclusivo ressoa como uma verdadeira inspiração para todos.
Não espere para ver a diferença, exija a diferença!
Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
CAMILA ALEXANDRE MATEIRO
camilamateiro23@gmail.com