O Fórum Brasil Mineral ocorreu dia 22 de novembro, no auditório da FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), juntamente com a cerimônia de premiação das Empresas do Ano do Setor Mineral 2023, marcando o retorno do formato presencial do evento. O Fórum teve como tema principal “Os planos das mineradoras para o futuro próximo” e foi dividido em dois blocos, com duração aproximada de 45 minutos para cada um.
O Bloco 1 teve como participantes Leandro Faria – Gerente de Sustentabilidade da CBA – Companhia Brasileira de Alumínio, Cristiano Cobo – Diretor Técnico e de Sustentabilidade da Anglo American, Leandro Ribeiro – General Controller da Bravo Mining e Elton Pereira – Country Manager da Bahia Nickel, com a moderação do Conselheiro da Brasil Mineral e presidente da Integratio, Rolf Fuchs.
Todos os participantes responderam inicialmente ‘De que forma as empresas de mineração podem contribuir para novos usos das áreas após a extração mineral? Quando esse trabalho deve ser iniciado?’ O primeiro a comentar foi Leandro Faria, da CBA, o qual disse que a companhia produz o alumínio em todas as suas etapas de forma integrada. “Fazemos mineração em parceria com a comunidade e academia há mais de uma década, para transformar a mineração em algo sustentável. Ao longo da última década, em parceria com a Universidade de Viçosa, mostramos que é possível devolver a área minerada em boas condições ou melhor ainda”. A CBA devolve as terras em condições melhores de cultivo, e isso prova que é possível promover uma mineração sustentável, com valor junto à comunidade, com uso de energias renováveis.
Sustentabilidade para a CBA está ligada a estratégia integrada ESG da companhia e um dos propósitos é zerar os rejeitos até 2030.
“Não há uma transição energética sem produção sustentável e desenvolvimento integrado de soluções”.
Na sequência, Cristiano Cobo, da Anglo American, comentou que a mineradora entende que o processo de médio e longo prazo tem que começar imediatamente. “Reimaginamos a mineração para melhorar a vida de todos, utilizando o território e de forma a construir o progresso com a comunidade e promover a compensação onde estamos minerando”.
Todo planejando da operação da Anglo tem um ciclo planejado e um papel progressivo para fechar a mina. “Tivemos diversas contribuições nos projetos e buscamos ser responsáveis. No caso do Minas-Rio, temos um corredor ecológico e criaremos um parque no final do processo, onde estamos alocados. Temos que olhar para todos os lados e construir juntos uma mineração totalmente responsável”.
Ele disse que a Anglo trabalha bastante em inovação e tecnologia para aplicar em processos de sondagem para ser mais eficiente no processo mineral. “Temos 12 iniciativas com a academia para buscar novos subprodutos para usar e conhecer melhor o parque mineral”. A Anglo busca tornar um negócio atrativo, longevo e, ao mesmo tempo, de responsabilidade social, que agregue valor para a comunidade. Compor algo e deixar um legado onde está inserido é importante”.
Da Bravo Mining, Leandro Ribeiro disse que a empresa está em uma terceira fase de exploração e temos a preocupação de recuperar o solo e o que nós fazemos no processo de pesquisa. “Nossa preocupação é desde já, iminente, e já nos preocupamos com isso desde o início, buscando a interação com a comunidade o máximo possível”.
Ribeiro abordou o que falta para a pesquisa mineral no Brasil. “Tivemos boas notícias no Simpósio do Ouro, mas estabilidade politica e os entraves são os pontos mais críticos”.
Elton Pereira – Country Manager da Bahia Nickel, disse que o projeto completará dois anos e que estão na fase de pesquisa. “Já vi o que é bom e o que não é em 40 anos e há uma preocupação genuína de fazer a coisa certa, o que passa pelo relacionamento com a comunidade. Nosso projeto no Sertão baiano é o de uma mina a céu aberto que irá gerar uma cicatriz (que seja mínima) e que possamos dar o tratamento adequado aos rejeitos com tecnologias e conhecimentos disponíveis, e, principalmente, respeitando as pessoas da região”.
Ele disse se não houver incentivos, que pelo menos não haja entrave à pesquisa mineral, que “segurança jurídica é fundamental e retrocessos e más notícias atrapalham”.
“O uso de minerais críticos não tem mais volta, temos um grande futuro nas áreas de lítio, de níquel sulfetado, e já estamos inseridos nesse contexto”.
Papel importante
Já o BLOCO 2 teve como participantes Carlos Neves – VP de Operações da Hydro Brasil, Ricardo Lima – Presidente da CBMM e Fabiano Costa – Presidente da AMG Brasil e Ana Cabral, CEO da Sigma Lithium, com mediação da Conselheira da Brasil Mineral e professora da UFMG, Virgínia Ciminelli.
Inicialmente Carlos Neves respondeu quais são os principais desafios ambientais, sociais e econômicos para se operar na Amazônia, já que a Hydro tem suas operações de produção de bauxita na região. “Operar na Amazônia é um desafio e temos que ter ciência disso, e realizar uma mineração com responsabilidade, sustentável, fomentar o diálogo com as comunidades, trazer as inovações tecnológicas para fomentar tudo isso. Há dez anos, temos uma parceria com a UFPA, onde já foram desenvolvidas várias teses, mestrados e doutorados, etc”. Já recuperamos quase três mil hectares e fazemos o processo de recuperação da área minerada quase imediata”.
Na sequência, todos os participantes comentaram se o Brasil poderá desempenhar um papel importante na produção dos chamados minerais críticos, necessários para a transição energética. Quais são as chances reais disso se concretizar? O que cada uma das empresas está fazendo nesse sentido?
Ricardo Lima, da CBMM, disse que o conceito de minerais críticos foi misturado com estratégicos no Brasil. “Colocamos no mesmo bolo, mas é importante separar. Não nos ajuda ver o nióbio como crítico e buscamos criar mercado por meio de investimento em inovação e tecnologia. Temos ido para novos segmentos, como os de baterias de lítio. Sem dúvida o Brasil pode ser protagonista, pois temos recursos necessários para desenvolver essa tecnologia”.
Fabiano Costa, Presidente da AMG Brasil, comentou que o Brasil tem todos os ingredientes para ser protagonista ou ser um participante importante na transição energética. “Temos tido bastante assertividade, principalmente no que depender das empresas, com boas perspectivas. Uma peça fundamental é que haja vontade política e que permitam à iniciativa privada ganhar destaque no cenário mundial”. Costa disse que é fundamental que o Brasil continue a atrair investimentos e agregue valor de forma estratégica. “Às vezes, temos acanhamento de ser fornecedor de matéria-prima. Não é sempre que o maior valor está no produto final”.
Ana Cabral, CEO da Sigma Lithium, disse que “temos que nos orgulhar do que a gente faz, mas fico triste com a falta de reconhecimento. Temos um produto de valor agregado, não tem produto suficiente para atender ao mercado. É a nossa vez, temos que nos juntar, como setor, governo, comunidade, e andar juntos para uma política de desburocratização”.
Além disso, os participantes abordaram também o que o Governo poderia fazer para estimular a produção e os usos desses minerais? Há possibilidades de parcerias entre setor público e privado? Qual o caminho para isso? Países como Austrália, Canadá, Índia e outros estão com programas de incentivo (financeiro e tecnológico) para a cadeia de produção de minerais críticos.
Carlos Neves – VP de Operações da Hydro Brasil vê que a empresa tem um papel importante para a produção de alumínio zero carbono, a empresa não tem mais barragens, faz investimentos em descarbonização nas refinarias, investimentos em caldeiras elétricas e transforma o caroço do açaí em combustível.
Ricardo Lima, presidente da CBMM, abordando o assunto disse que até onde vale a pena ir avançando na cadeia de suprimentos. “Estamos fazendo pesquisas para baterias, pois há uma corrida global. Queremos ter uma solução para que possamos vender para todos os países, mas não ser um produtor”. Para Fabiano Costa, Presidente da AMG Brasil, esse paradigma precisa começar com as empresas. “Deveríamos ser mais agressivos naquilo que a empresa vai investir e o importante é que vire um ciclo virtuoso. Nesse ponto da transição energética, é preciso tecnologia e é uma jornada de longo prazo. Tem que ter vontade política para fomentar o negócio de baterias de lítio, pois a iniciativa privada não aguenta sozinha”.
Para Ana Cabral, CEO da Sigma Lithium, a empresa entra com a vantagem competitiva que o País dá: “temos uma planta zero carbono, zero rejeito. A grande vantagem competitiva é a tecnologia verde e ter o elemento verde para passar os bloqueios de carbono. E abocanhamos mais um mercado, de sulfato de lítio. Temos que ter orgulho de desenvolver uma região que era uma das mais pobres”, ressaltando que é importante pensar como cadeia de tecnologia”.
Outro ponto abordado foi sobre quais os investimentos e projetos já aprovados pela empresa para serem implementados no futuro próximo? E como todos analisam o cenário para a indústria mínero-metalúrgica nos próximos anos? Quais são os vetores decisivos nesse cenário?
Ana Cabral comentou que a cultura do erro no existe no Brasil, mas quanto mais se erra, mais se aprende, e vale para tudo. “Não temos estrutura de financiamento para fomento global, e temos que inovar na pesquisa de financiar o erro (dessa forma você inova) e abrir caminho para quem está acertando. Inovação é erro, inclusive dos pesquisadores”. Fabiano Costa disse que a iniciativa privada tem certo receio de pesquisa mineral, mas ela faz isso. “É complicado patrocinar o erro e o ônus do erro é caro. O Brasil tem um potencial desconhecido, e este cenário poderia ser diferente, caso houvesse políticas públicas em inovação e tecnologia, onde o risco associado é maior”. Para terminar, Fabiano disse que o investimento em recursos humanos é fundamental.
Ricardo Lima, da CBMM, disse que os cortes em pesquisas são um tiro no pé, um ponto de profunda preocupação, pois passamos a não formar novos profissionais nas áreas de ciência e tecnologia. “Precisamos investir cada vez mais em educação, para daqui a 20, 30 anos, ter um valor agregado melhor”. “Temos um mundo de oportunidades e estamos trazendo pessoas para trabalhar em mínero-metalurgia. E o crescimento vem através do conhecimento”. Já Carlos Neves, da Hydro, comentou que a empresa acredita na pesquisa e nas parcerias para desenvolver novas tecnologias, para se ter um diferencial de gestão sustentável. “Estamos investindo em projetos renováveis para que ela faça do ciclo zero carbono. Temos que fazer a diferença para nosso produto”.
Premiação das empresas
Na sequência teve início a cerimônia de premiação com a entrega dos troféus para as “Empresas do Ano do Setor Mineral”, seguido de um coquetel.
As empresas premiadas foram CBA e Hydro Paragominas (categoria Governança Ambiental), AMG e Ero Brasil (categoria Crescimento), Sigma Lithium e Nexa Resources (categoria Governança Social), Anglo American e CBMM (categoria Inovação e Tecnologia) e Bravo Mining e Bahia Nickel (categoria Pesquisa Mineral). Estas empresas foram escolhidas através de votação direta entre os leitores de Brasil Mineral, a partir de uma lista de indicações do Conselho Consultivo da publicação. No total, as empresas receberam mais de 17 mil votos.
Além da premiação houve homenagem aos 70 anos da Geosol pelo trabalho longevo em pesquisa mineral. O Conselheiro Elmer Prata Salomão entregou uma placa a João Luiz de Carvalho, presidente da Geopar, afirmando que a Geosol nunca deixou de desenvolver as áreas de tecnologia, inovação, gestão ambiental, social e governança.
Na sequência, foi lida mensagem de Eduardo De Come, CEO da Ero Brasil, agradecendo a indicação e reconhecimento na modalidade Crescimento e informando que a empresa não compareceu em respeito à vida de um funcionário de uma empresa terceirizada que faleceu um dia antes, em acidente.
A conselheira Maria José Salum entregou o prêmio a Carlos Neves, VP de Operações da Hydro Brasil, que agradeceu o prêmio e disse que a empresa continuará investindo para tornar a Hydro cada vez melhor. José Fernando Coura, da FIEMG, entregou a Ricardo Lima, presidente da CBMM, que disse que a empresa passou de 90 mil para 150 mil toneladas de nióbio.
Em Governança Ambiental, pela CBA recebeu o prêmio Leandro Faria – Gerente de Sustentabilidade da companhia. Na ocasião, faria disse que acredita muito em um mundo mais sustentável e colaborativo. O troféu foi entregue por Rolf Fuchs.
Na categoria Pesquisa Mineral, Nelson Tsutumi, presidente da APEMI, entregou o troféu para Leandro Ribeiro, General Controller da Bravo Mining. “Temos 15 meses de vida e já conseguimos ótimos resultados e vamos continuar a progredir com muito trabalho”. Ainda em Pesquisa Mineral, o conselheiro João Luiz de Carvalho, entregou o prêmio a Elton Pereira, Country Manager da Bahia Nickel. “Com muita honra recebo o prêmio, em nome de todo o time, e agradecemos a quem acreditou no projeto, ainda no começo”.
Na sequência, na categoria Inovação e Tecnologia, a conselheira Virginia Ciminelli, entregou o troféu a Cristiano Cobo, diretor Técnico e de Sustentabilidade da Anglo American. “Nosso projeto premiado é inovador e gradecemos o reconhecimento”, disse ele.
Na categoria Governança Social, Júlio Nery, diretor do IBRAM, entregou o prêmio para Cristiane Holanda, Gerente de Gestão Social da Nexa. “É uma honra ser premiado e trabalhar na área social é gratificante. Capacitamos parte da população de Aripuanã e podemos fazer algo antes, durante e depois da mineração, que muda com o mundo, com mais mulheres e mais plural”.
Ainda em Governança Social, Maria Eugênia Cabral, diretora de Mineração da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, entregou o troféu a Ana Cabral, CEO da Sigma Lithium, que disse receber com orgulho o troféu e que “nunca perdemos a capacidade de nos indignar e como podemos ajudar uma das regiões mais pobres do Brasil”.
Na categoria Crescimento, o Conselheiro Renato Ciminelli entregou o prêmio para Fabiano Costa, CEO da AMG Brasil. “A AMG recebeu esse prêmio em 2019 após o startup em campos das Vertentes. A categoria engloba muita gente que participa do projeto. Agradeço as esferas governamentais que nos apoiaram, seja o Governo mineiro e os municípios onde operamos, comunidades, fornecedores e clientes. O prêmio é de todos”.
No final, Fernando Coura, Presidente do Conselho do Sindiextra e representando o presidente da FIEMG, Flávio Roscoe, disse que os custos da industrialização da mineração no Brasil são insuportáveis. “Se JK (Juscelino Kubitschek) estivesse construindo Brasília hoje, ele estaria há dez anos no licenciamento ambiental”. Ele disse também que a FIEMG investiu R$ 350 milhões no SENAI e hoje é um centro tecnológico. Temos mais de 70 doutores e vamos investir mais de R$ 1 bilhão no SESI/SENAI. Temos que acabar com a insegurança jurídica, o maior gargalo que se traduz na questão ambiental”. Para Coura, não existe culpa de Governo A ou B. O sistema brasileiro é contra a produção.
O Fórum Brasil Mineral e a premiação das Empresas do Ano do Setor Mineral 2023 tiveram como patrocinadores Ouro Geosol, Metso e Sandvik, como patrocinador prata a R&D Mineração e Construção, e Sindiextra e FIEMG como entidades parceiras. (Rodrigo Gabai)