Donald Trump voltou ao cargo com uma agenda agressiva, incluindo tarifas unilaterais para todos os países, mas particularmente mais elevadas sobre as importações chinesas. É a retomada da lógica do “America First”, só que sem sutileza e mais efeitos colaterais, causando incerteza no mercado.
As tarifas devem elevar o custo de vida nos Estados Unidos (EUA), pois pressionam a inflação de bens importados e embaralham as cadeias produtivas globais. O discurso é de proteção da indústria americana, mas o risco de retaliação pelos outros países é real e crescente, como se vê das reações chinesas.
O presidente americano retirou os Estados Unidos de fóruns multilaterais que considerava “lentos” ou “hostis”, como a Parceria do Indo-Pacífico, além de cortar verbas para organismos internacionais, dando declarações hostis contra a ONU, OTAN e OMS. Particularmente no caso da OTAN, há forte pressão para aumento dos gastos militares dos membros da Aliança, reduzindo os pagamentos norte-americanos, além de criar demanda para os fornecedores bélicos dos EUA.
O vácuo de liderança tem sido ocupado pela China e, em menor grau, pela Europa. Se no passado o multilateralismo predominava, com Trump a lógica é de acordos bilaterais nos quais a América tenha claras vantagens na negociação. Embora ele possa colher ganhos imediatos, há riscos de perda de confiança no longo prazo, prejudicando o soft power americano.
Uma nova rodada de cortes de impostos para empresas entrou na pauta do dia, para tornar as reduções do primeiro mandato permanentes. Desregulamentações ambientais e financeiras também têm ocorrido sob a justificativa de “libertar o setor produtivo”, embora sejam uma forma de reduzir a demanda por equipamentos e materiais menos poluentes, áreas nas quais a China domina a produção, e aumentar a utilização de combustíveis fósseis, setor dominado pelos Estados Unidos.
Na questão das fronteiras, Trump cumpriu à risca suas promessas de campanha, reduzindo em mais de 95% a imigração ilegal, além de intensificar deportações. Em vários casos, tem havido reclamações fortes dos Democratas por considerarem que vários casos teriam ferido o devido processo legal.
Cada novo atrito acelera essa desconexão. E se o dólar perder espaço como moeda de referência global, os EUA enfrentarão uma erosão de poder sem precedentes, perdendo a capacidade de financiar déficits a custos baixos — o que, ironicamente, pode tornar a economia americana mais vulnerável a longo prazo.
*Emanuel Pessoa é advogado especializado em Direito Empresarial, Mestre em Direito pela Harvard Law School, Doutor em Direito Econômico pela USP e Professor da China Foreign Affairs University, onde treina a próxima geração de diplomatas chineses.
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BARTIRA BETINI NUNES
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