A campanha Setembro Amarelo, ao ressaltar os cuidados com a saúde mental, tem ganhado mais evidência ao longo dos anos, e recentemente ampliou ainda mais o olhar para uma frente importante: o desafio de criar ambientes de trabalho que garantam a saúde mental dos funcionários. Um estudo do ADP Research Institute revela que 67% dos trabalhadores brasileiros enfrentam estresse no trabalho, índice superior à média global de 65%. Além disso, segundo o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o ano de 2022 registrou 209.124 afastamentos por transtornos mentais, como depressão e distúrbios emocionais.
Dados da Sami, healthtech focada em Atenção Primária à Saúde, apontam que pelo menos 10% dos atendimentos realizados por seus times de saúde envolvem problemas psicológicos diretamente diagnosticados. No entanto, existem queixas diárias (como sintomas físicos como insônia e mal estar geral) que podem muitas vezes indicar questões de saúde mental subjacentes. Somente em 2023, a operadora observou um aumento de 38% nos afastamentos relacionados à saúde mental, alinhando-se com a tendência nacional de crescimento dos afastamentos por transtornos mentais.
Alexandre Calandrini, médico de família coordenador do time de saúde da Sami, lembra que a Atenção Primária à Saúde (APS) é uma aliada importante na promoção da saúde mental, caracterizada por um conjunto de ações de promoção do bem estar, monitoramento contínuo e a prevenção de problemas que extrapolam para a saúde física. [Nome do profissional] também destaca que fazendo esses cuidados individuais com os colaboradores, não somente os profissionais serão beneficiados, mas também o ambiente de trabalho como um todo. “O elevado número de afastamentos de uma empresa pode refletir práticas empresariais que adoecem os colaboradores. Estabelecer escuta ativa e educação em saúde são medidas simples, mas com grande impacto. Um colaborador saudável produz melhor, falta menos e o turnover na empresa diminui. Além do cuidado em si da saúde, cuidar da saúde mental é chave para o negócio também”, pontua.
E quais são os recursos que estão sendo ativados para mudar as estatísticas?
Há mecanismos sociais incentivando corporações a lidar com o tema. A lei federal 14.831, por exemplo, sancionada em 2024, cria o certificado de Empresa promotora da saúde mental, estabelecendo um sistema de certificação que reconhece a adoção de práticas voltadas para o bem-estar psicológico dos colaboradores. Para apoiar essa iniciativa, a Telavita que atua como clínica digital de psicologia e psiquiatria e é parceira de saúde mental da Sami, comprovou que seguindo protocolos adequados foi possível chegar em uma taxa de melhoria clínica de 87% ao final do tratamento, reduzindo em 91,7% os casos graves e em 81% os casos moderados após a conclusão do primeiro ciclo de cuidados.
Para Brunno Paes Leme Zacharias, psicólogo da Telavita, movimentos como esse são fundamentais para melhorar o cenário psicológico do país. “A relação entre trabalho e saúde mental tem sido amplamente estudada e discutida nos últimos anos, com dados mostrando que o trabalho é, de fato, um dos maiores provocadores de estresse mental na população. Além disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e ansiedade, custando à economia global quase 1 trilhão de dólares. Implementar programas de saúde mental nas empresas é uma atitude necessária e benéfica para todos os envolvidos”, explica.
Zacharias ainda alerta sobre a importância de ter profissionais da área sérios e comprometidos com o impacto positivo e real da elaboração dos programas de saúde mental. “Existem muitos casos de mentalwashing – exploração do tema da saúde mental sem profundidade real, apenas para fins de autopromoção. É preciso ter cuidado para não explorarmos essa dor de um jeito incorreto e ineficiente”, completa.
Por onde as empresas devem começar?
O papel do acompanhamento de saúde integrado – unindo Médico de Família e Psicólogos – é essencial na promoção do bem-estar da população, e para os colaboradores não é diferente. Ativar práticas como rodas de conversas, atividades psicoeducacionais recorrentes, avaliações e diagnósticos precoces, monitoramento de afastamentos e atestados, acesso facilitado para atendimentos e suporte tanto para telepsicologia quanto psiquiatria são algumas das opções imediatas que trazem benefícios para empresas e profissionais.
Confira também outras ações práticas que geram impactos positivos para todos os envolvidos:
Educação e Sensibilização: Promover campanhas de conscientização para reduzir o estigma e educar todos os níveis da organização sobre a importância da saúde mental.
Treinamento de Liderança: Treinar gestores para reconhecer sinais de problemas de saúde mental e responder de maneira adequada, criando um ambiente de apoio.
Investimento em Recursos: Alocar recursos adequados para programas de saúde mental, incluindo a contratação de profissionais qualificados e a implementação de serviços de apoio psicológico.
Cultura Organizacional Positiva: Fomentar uma cultura que valorize a saúde mental, incentivando a comunicação aberta e o apoio mútuo entre os colaboradores.
Flexibilidade no Trabalho: Oferecer opções de trabalho flexíveis, como horários flexíveis e trabalho remoto, para ajudar os colaboradores a equilibrar melhor suas vidas pessoais e profissionais.
Monitoramento e Avaliação: Utilizar ferramentas de avaliação para monitorar a saúde mental dos funcionários e medir o impacto das intervenções, ajustando as estratégias conforme necessário.
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Louise Barbosa Favaro
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